Ela molda o Barro do Amor

BRUNO CHAMOCHUMBI ENTREVISTA ELIANA SALIBA *

Uma ceramista de sucesso nacional mudou o rumo de sua vida. Por amor, Eliana Saliba Piacentini se molda para o novo, disposta ao desafio de oferecer seu melhor como mãe e profissional. Eliana inaugurou em agosto de 2017 o IAP, Instituto Autismo de Piracicaba, que além de terapias especializadas para crianças e jovens com autismo, promove cursos e eventos na área de autismo. Eliana dirige um corpo multidisciplinar com fonoaudióloga, psicóloga, musicista e educador físico. Confira nossa conversa.

 

Bruno Chamochumbi – Você é mãe de um jovem com autismo de 17 anos. Conte-nos essa história.

Eliana Saliba Piacentini – O Enrico apresentou atraso desde que nasceu. Fomos a vários médicos e não fechávamos o diagnóstico. Em 2010, ele tinha 10 anos, e fui ao segundo congresso internacional de autismo de médicos DAN. E lá, participando do congresso, confirmamos o autismo dele.

Isso abriu uma luz, um túnel na minha frente. A partir daquele momento, comecei a entender melhor a situação. Como eu não sabia o que fazer? Mesmo ele tendo passado por vários tipos de terapia desde nascer, às vezes não entendíamos o comportamento dele.

Aí, levamos ele numa medica especialista em autismo no Rio. Ela confirmou o diagnóstico. Comecei a fazer muitos cursos para entender e ajudar na evolução dele. Daí comecei a me encantar pela área, estudar muito, um curso atrás do outro, inclusive um curso DIR – Floortime. Conforme fiz os cursos, comecei a trabalhar com o Enrico e as respostas foram muito boas. Fui apreendendo a parte metabólica, o funcionamento do cérebro e suas conexões que são diferentes e também técnicas terapêuticas. Me encantei pela área e me interessei ainda mais em sair da minha esfera familiar e ajudar outras famílias. Foi aí que encontrei a pós graduação.

Quando eu vi a evolução do meu filho, eu senti que deveria ajudar outras crianças, pois fez muita diferença. O mundo para eles é desafiador.

 

Quais os maiores desafios no tratamento do autismo?

É preciso compreender que a parte de integração sensorial é desorganizada, os sentidos são diferentes. A percepção do corpo é diferente. O metabolismo também precisa ser tratado. Estar junto com a criança no seu cotidiano faz muito diferença. É fundamental estar junto, para buscá-lo dentro dele e trazer pro mundo.

 

A tecnologia ajuda nos cuidados?

Sem dúvida, tem muitos autistas que não falam e acabam usando o ipad, por exemplo. Tem os jogos interativos. Porém, o contato pessoal é insubstituível, fundamental para eles. Tudo é comunicação. A comunicação e a parte social, que é o relacionamento, são fundamentais desenvolver. O social é a base para qualquer pessoa, principalmente com jovens com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Para estarem e pertencerem ao mundo.

 

Qual a contribuição do seu filho e dos autistas para o mundo? Ele é uma pureza muito grande. São pessoas que vêm trazer o melhor da gente. Não enxergam a maldade, não compreendem a mentira, são anjos na terra. Quem mais aprende somos nós. Quando eu faço terapia com essas crianças, quem mais aprende sou eu. Me recarrego com energia pura. Tive que crescer muito como ser humano para saber cuidar dele, isso é extraordinário. Um presente.

 

Qual a contribuição da Eliana e do IAP ? Um tratamento com pessoas capacitadas e o tempo todo se capacitando para entender o universo altista, onde não há fórmulas prontas. Encontrar o caminho para acessar aquela criança ou jovem com autismo. Cada um é um. Um é diferente do outro.

 

Conte-nos uma passagem que te emocionou em seu trabalho.

Para atender minha primeira criança, fui numa reunião na casa com o pai, a mãe e a criança. Meu primeiro contato com ela foi especial, porque ela pulou no meu colo e até os pais brincaram que o menino parecia me conhecer. Tive a impressão que ele estava dizendo: “Achei ! Que bom, alguém me compreende”.

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